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REPORTAGEM

CSS | 22 de Setembro de 2017

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Festa do Avante
Decorreu no início do mês de Setembro a 41ª edição da
Festa do Avante. Como é apanágio desta festa, os palcos
encheram-se de música vinda dos 4 cantos do mundo.
Orquestra Sinfonietta de Lisboa, António Zambujo, Rui
Veloso, Paulo de Carvalho e Língua Franca foram alguns
dos convidados que animaram os milhares de visitantes
que passaram pela maior festa do Concelho do Seixal.
Mais um ano que passou e mais uma edição da Festa
do Avante na Quinta da Atalaia e Quinta do Cabo da
Marinha, em Amora, Seixal, naquele que é provavelmente
um dos maiores acontecimentos culturais do nosso país. O
"Comércio" fez-se representar em mais uma edição desta
festa e para que possamos saber mais sobre este grande
evento, nada melhor do que o testemunho de várias pessoas
que se juntam à Festa, anualmente, vindas de vários locais
do país e do mundo.
Pedro França
26 anos
Aldeia de Paio Pires
Costumas vir todos
os anos à Festa do
Avante?
Todos os anos.
Venho ao Avante
sem interrupções já
desde que o Avante
ainda era no Alto da Ajuda em Lisboa.
Era miúdo mesmo pequeno e já ia com
os meus pais num carrinho.
O que te traz todos os anos a esta Festa?
Para mim vir à Festa do Avante tem
vários significados. Apesar de não ligar
muito à causa política, a minha família
toda tem grandes ligações ao partido,
ou seja, desde miúdo que venho fazer
as jornadas de trabalho com eles, com
o meu avô inicialmente e depois com o
meu pai, e depois todas essas jornadas
e todo o espírito da Festa sempre me
trouxe. Ainda para mais veio aqui para a
nossa zona posteriormente, já há muitos
anos que está aqui, e mais fácil se tornou
vir aqui trabalhar, montar a festa com eles
e então desde aí ficou o bichinho da Festa
e não dá, é uma coisa que fica mesmo
na agenda, seja em que altura for, seja
no início ou no fim-de-semana depois,
costuma ser logo no início como agora
ou mais 8 e 9 de Setembro.
Há algum artista que este ano te chame
a atenção para veres um concerto?
Sim. Na Festa o que me puxa sempre é
o Palco 1.º de Maio, porque para mim é
o que tem a melhor agenda de todos. Tem
muito Jazz, tem muita Música Popular
Portuguesa e eu adoro isso. Especialmente
o dia de ontem (n.d.a. Sábado) foi
recheado de cenas muito fixes.
O que viste ontem então?
Ontem houve um projecto muito
fixe é os “Home” de Jazz com João
Barradas que é acordeonista e faz muito
bem a fusão, depois também vi o Bruno
Pernadas também de Jazz, depois tive a ver
o Luís Bettencourt com Zeca Medeiros, o
Zeca é açoriano e é muito fixe o projecto
e depois um projecto de Folk que eram
os Stonebones & Bad Spaghetti, que é
muito fixe também.
Durante todos os anos que vens, há
alguma história mais curiosa ou que te
tenha marcado mais que possas partilhar?
Agora grande exercício de memória
que tenho de fazer, não te sei responder…
Acho que todo o geral da Festa é o
suficiente para marcar… olha, vou-te

ser sincero, a Carvalhesa é o momento.
Lembro-me bem, desde o período de
adolescente, todas as grandes Carvalhesas,
e quando digo grande é a última de fecho
da Festa do Avante, lembro-me de todas,
com quem estava, é muito estranho em
mim mas eu lembro-me de todas as
Carvalhesas, com quem dancei, com
quem estava, como foi, e é uma cena
brutal. Para mim é o momento alto,
porque é o culminar da Festa.

Marta Inocêncio
18 anos, Seixal
Já vieste alguma vez à Festa do Avante?
Não, não, é a minha primeira vez.
O que estás a achar da experiência?
Está a ser engraçado, estou a ver as
pessoas a divertirem-se bastante, foi
isso que me disseram, que a Festa era
divertida e que isto era só Festa e rir e
decidi experimentar este ano.
Vieste sozinha?
Não, não, vim com um grupo de
amigos meus e com o meu namorado
(risos). Estou a rir-me porque o meu
grupo está a fazer palhaçadas enquanto
falo contigo.
Alguma história que possas partilhar
do que tens visto, de toda a área da
Festa ou dos concertos?
Os concertos têm estado a ser giros,
não é uma qualidade sonora como
se fosse a um recinto fechado ver um
concerto mas vê-se e ouve-se bem. O
espírito é divertido e as pessoas estão
muito divertidas. Por acaso ainda não vi
nenhuns problemas a acontecer, que já
me disseram que também acontece. Mas
estou a gostar e se me for possível para o
próximo ano estou cá outra vez.

João Carrinho
24 anos, Porto
Já me disseste que
ajudaste a montar a
festa…
É com muito orgulho
que ajudei a montar
esta festa, que é feita por nós mas é para
toda a gente.

É a primeira vez que vens?
Venho todos os anos. Se não vier à
festa o meu ano não está completo.
O que te traz cá?
Para além do espírito de militância, não
há festa como esta em lugar algum. Não
há nenhum sítio onde se consiga criar
uma microcomunidade de entreajuda
como se cria aqui.
Tens alguma história mais curiosa que
possas contar?
Tenho muitas, mas são demasiadas
memórias, todas elas boas. Todos os anos
tenho uma história nova, até disso se faz
a Festa.
Sara Guerra
29 anos, Feijó
Porque veio à festa?
Este ano vim por causa
de Rui Veloso. Também
por causa de António
Zambujo mas principalmente por causa
de Rui Veloso.
Há mais algum artista que lhe desperte
a atenção?
Regula e Língua Franca.
Há alguma história que possa contar
das edições anteriores que tenha ficado
na memória?
Houve um ano, há alguns anos, que
começou a chover imenso. Estava aqui
nesta mesma zona e isto ficou cheio de
água, e estava aqui um senhor já com uns
copitos a mais, deitado no chão a dormir
com um copo de imperial ao lado e o
copo estava a encher-se de água da chuva.
Passado um pouco ele acordou quando
parou de chover, e ele olhou para o copo,
bebeu tudo de primeira e foi embora
(risos).
Luís Carrinho, 55 anos, Vila Nova de
Gaia
Já sei que veio à primeira edição da
Festa do Avante ainda na FIL. Há
alguma história que possa contar dessa
primeira edição?
Em 1976 eu tinha 14 anos, era um
miúdo, e as impressões que tenho daquilo
foi de ver o concerto dos Area (n.d.a.
banda italiana de rock alternativo),
recordo-me bem desse concerto, foi um
concerto especial, depois nós enquanto
estudantes comunistas fizemos uma força
muito grande para que os Area fossem ao
Porto ao Palácio de Cristal e foram, um
ano mais tarde salvo erro. Recordo-me
de ver esse concerto que foi importante

para mim, recordo-me de ver o Henrique
Viana com a Ivone Silva num espectáculo
especial.
Recordo-me também do espaço já
naquela altura, e sendo a primeira, para
nós, e para mim particularmente que era
um miúdo como disse, aquilo marcoume um bocado por ser pouco espaço,
senti-me assim muito apertado lá dentro
os espaços para circular eram pequenos,
já naquela altura se adivinhava que nós
iriamos chegar a uma Quinta do Carmo
não é? Acho que é um bocado isso, até
um miúdo de 14 anos percebeu isso. Nós
vamos um dia ter de chegar à Quinta do
Carmo senão não vamos ter dimensão,
tamanho, espaço para esta gente toda e foi
um bocado essa sensação e as memórias
que guardei dessa altura.
O que o traz à Festa do Avante ano após
ano?
Acho que podia resumir tudo num
motivo só, ou em dois ou três motivos.
Mas isso ia estar a reduzir no fundo a
riqueza que esta festa representa para
mim, porque eu acho que todos os anos
venho aqui buscar qualquer coisa de novo,
nem que seja só mais uma pessoa que eu
conheço, nem que seja mais um grupo
musical que eu vejo, nem que seja mais
uma peça de teatro que eu não conhecia
e nunca ouvi falar e vim ver aqui. Mas
naturalmente resume-se em meia dúzia
de motivos, encontro de gente que se
quer bem, uma festa política que me diz
muito pelo conteúdo e pela mensagem
que nos tenta transmitir, pelos ideais
que estão presentes e que são espelhados
na forma como esta festa se vive, ou
seja, aqui convivem pessoas de todas as
idades, num clima de franca liberdade,
numa situação que para alguns poderia
considerar quase uma anarquia, mas que
não é uma anarquia, tudo isto tem regras,
regras que às vezes são difíceis de impor
porque nem toda a gente as entende,
estamos a falar de centenas e milhares de
pessoas, e tem que haver sempre quem
não goste das regras que são criadas, mas
tem-se conseguido sempre levar esta Festa
ao longo de 41 edições com um espírito
de liberdade, de vontade de estar com
outras pessoas que gostam de estar bem
e de ser livres, e por último a cultura, a
música, os debates políticos que já estão
inseridos no que disse antes mas é todo
um conjunto de situações que fazem com
que às vezes digam que isto é mais um
festival de Verão mas não, isto é a Festa do
Avante e não há festa como esta.
João Domingues