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CSS | 28 de Outubro de 2016

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Pelo Tejo ao encontro
da sua amada Lisboa

Quando o Tejo beija as sete colinas

Mais do que um rio, o Tejo é Lisboa. Uma linha de água a partir da qual e como o poeta Fernando Pessoa um dia escreveu,
“vai-se para o Mundo”. Mas a partir do Tejo, este rio que beija a sua cidade amada, umas vezes com mágoa, outras com Saudade,
mas sempre com Paixão, também se chega a Lisboa. Ela está ali, à distância de um pequeno olhar e da brisa que bate em brancas
velas de um veleiro que baloiça suavemente ao sabor de brandas vagas.
Foi num final de tarde, enquanto percorria
o Tejo num veleiro da frota da Tagus Cruises,
empresa que faz cruzeiros turísticos à vela pelo
Tejo, que melhor reparei em todo o esplendor de
uma Lisboa que se estende ao longo do rio. Ou
quem sabe se esse olhar mais atento tenha acontecido por me ter vindo à memória uma frase
um dia escrita por Lord Byron: “Quanta beleza
oferece Lisboa. A sua imagem reflecte-se nesse
nobre rio que não precisa de nenhum poeta para
lhe inventar um leito de areia dourada”.
Mas se esse leito de areia dourada já não
existe, a beleza de uma encantadora Lisboa
que lança o seu feitiço sobre as águas do Tejo
continua apaixonadamente cativante, tornando obrigatória uma viagem rio acima e rio
abaixo para a descobrir num ritmo lento e
embalador, ao mesmo tempo que se saboreia
a brisa e o sol.
Vista a partir da tranquilidade do Tejo,
a cidade parece envolta numa nostalgia que
nos convida a viajar no tempo e que tenta
enquadrar-se em 20 centímetros de um postal ilustrado, deslizando livremente pelas suas
margens.
Mas há que zarpar, ir ao encontro do vento
que que sopra lá bem do horizonte onde o rio
abraça o grande mar, e sentir esse amor entre
Lisboa e o Tejo.
Soltam-se as amarras e abandona-se a segurança da Doca do Bom Sucesso, bem ali ao
lado da Torre de Belém, partindo em direcção
a montante. Desde logo somos invadidos por
uma Lisboa que se abre num ângulo apenas
conhecido a partir do rio para, com as primeiras manobras de puxar cabos que fazem
encher as brancas velas de ar, começarmos a
aproximação à ponte sobre o Tejo. E lá está
o Cristo Rei como que abraçando esse amor
entre o Tejo e a sua Lisboa.
A proa indica o norte e há que seguir empurrados pela maré que vai danto mais corpo ao rio em direcção da Praça do Comércio.
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Uma imagem que embriaga e nos enche de
prazeres e nostalgias.
Lá está a estátua do Rei José I e o arco da
rua Augusta. Sobre ela, e perante os nossos
olhos que passam por cima dos telhados vermelhos de uma Lisboa secular, descobrem-se
as janelas da Mouraria, a muralhas do Castelo
de São Jorge, o casario do Bairro Alto e de Alfama, a Sé, o Mosteiro de São Vicente de Fora
e a bela cúpula da Igreja de Santa Engrácia ou
do Panteão Nacional.
Como que um jogo da Lego, o casario parece escalar freneticamente as encostas das sete
colinas numa quadrícula que faz lembrar uma
colorida tapeçaria, ora desarrumada, ora caprichosa, num incessante sobe e desce.
Mas há que virar a proa para sul, para a
boca do grande mar, ao encontro de um pôrdo-sol que se anunciava esplendoroso.
No seu caminho em direcção à foz, o Tejo
vai-nos empurrando novamente ao encontro
da Praça do Comércio e de belos edifícios que
tentam esconder brancos campanários, deixando-nos ainda vislumbrar algum do charme

do Bairro Alto e as roupas a secar nas varandas
de decadentes prédios.
Depois, continua-se descendo um rio que
nos leva ao Cais Sodré, local desde há muito de encontros. Antes, de marinheiros que se
perdiam de amores por mulheres que ofereciam prazeres. Agora, lugar de encontro das
noites vividas em esplanadas e bares por onde
criculam outros olhares e outros desejos.
Também aqui, nas águas que parecem acenar à Madragoa, por nós vão passando outros
veleiros que emprestam as suas velas à brisa
que continua a soprar de poente.
E lá estava também o Cais da Rocha Conde d’Óbidos à minha espera, esse lugar onde
nasceu o meu amor por este rio, um rio que
está sempre presente em mim, um rio que se
tornou num incondicional amigo.
E é já velejando a favor da corrente que desce em direcção ao mar que nos cruzamos de
novo com a ponte sobre o Tejo e com a modernidade arquitetónica do Museu de Arte,
Arquitetura e Tecnologia para chegar às memórias de seculares histórias feitas por homens

que partiam deste mesmo Tejo em direcção do
desconhecido, da glória ou do não-regresso.
Lá está, dando continuidade à memória e testemunho de tempos áureos, o Padrão dos Descobrimentos que parece saudar os navegantes que
por ali passam sob o olhar atento do Infante D.
Henrique, enquanto em segundo plano a imponência e a beleza arquitectónica do Mosteiro dos
Jerónimos contrasta com a modernidade do Centro Cultural de Belém, para logo nos deixarmos
novamente encantar com a delicadeza da Torre
de Belém.
Um pouco mais além continua-se a navegar.
E quando já o Sol está há muito para além do
Tejo depois de o ter acariciado com os seus raios,
e já o luar faz-se anunciar aos corações mais apaixonados, mostra-se uma outra Lisboa. A Lisboa
das luzes.
Uma Lisboa igualmente bela e que também à
noite não deixa de clamar pelo seu amado, o Tejo.
Uma Lisboa que é Fado e que tem no Tejo
a Saudade, que também se descobre e se deixa
descobrir ao sabor da brisa que bate em brancas
velas.
Texto e fotos: Fernando Borges

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